Individual de Luciana Maas mostra as técnicas possíveis da pintura tendo o tênis como objeto principal

01.abr.24

Balanço abre dia 13 de abril, às 14h, no Átrio da Fundação Iberê, seguido de visita guiada pela artista. Entrada gratuita 

 

No dia 13 de abril (sábado), a Fundação Iberê inaugura Balanço, a primeira individual de Luciana Maas (SP) em um museu. Com curadoria de José Augusto Ribeiro, a artista apresenta, pela primeira vez, as três principais séries a que se dedicou nos últimos 15 anos: os Tênis, as Lonas, e os Balanços, todas em grandes formatos e com grande liberdade nos golpes dos pincéis e nas articulações entre figura e fundo. São cerca de 20 trabalhos que permitem um mergulho completo em sua obra e no seu imaginário.

No processo de cada pintura, entram em disputa pensamentos contrários, gestos largos e mínimos, ligeiros e lentos, sujos e minuciosos, materiais distintos (a tinta a óleo, o bastão oleoso, o spray) na obsessiva atividade de colocar, espalhar, raspar e retirar tinta, de pintar, apagar, sujar e pintar de novo, de mexer e mexer em franco vaivém.

“‘Fazer’ implica a destruição – e implica, por consequência, a contradição –, nos processos de trabalho de Luciana Maas (…) As obras são inteiras, carregadas, densas. Resultam em superfícies preenchidas por sobreposição e mais sobreposição de matéria e atividade. Outro paradoxo aparente se refere justamente ao fato de que pinturas tão impregnadas de substância e ação sejam povoadas por corpos descarnados, mutilados, por objetos em desmancho, metidos em espaços incertos, envolvidos por luzes fluorescentes, nuvens de fumaça e gás – que, a julgar pelo brilho e pelas cores, são radioativos. Agora, se ainda assim os trabalhos inspiram inacabamento é porque, prontos, restam ainda como se estivessem em aberto, com seus acontecimentos em marcha contínua, de formação, distorção, desmoronamento e construção, de novo, de suas partes, de maneira diferente a cada vez, a cada exame – sobretudo nas telas pintadas por Luciana Maas a partir de 2012”, destaca Ribeiro em seu texto curatorial.

A ênfase nos processos de elaboração se torna evidente no andamento do trabalho de Luciana à medida que a artista reitera a opção por pintar somente tênis por anos consecutivos, de 2010 a 2015. Depois disso, eles continuam a aparecer no trabalho, porém, intercalados já com outras ideias. Nessas obras, os calçados são quase sempre vistos de cima para baixo com uma paleta de cores restrita, reduzida ao preto, branco e amarelo, com inserções pontuais de vermelhos, verdes e azuis.

“Há trabalhos gráficos, com traços ligeiros, decididos na observação do objeto e produzidos com tinta preta, que desenham os tênis; há outros com muita matéria, aplicadas em pinceladas enérgicas, que arrastam pela superfície uma tinta espessa, como lama, e se cruzam, no limiar do informe (“Respingo”, 2012); há telas em que mal se identificam os sapatos nem figura nenhuma (“Batom”, 2012); assim como há pinturas silenciosas, rebaixadas, em que os calçados, vistos do alto, repousam quase ao centro do quadro, levemente à esquerda, enquanto seus limites se desmancham e se confundem, quase sob fumaça, com o entorno, em imagem acinzentada, com um pouco de amarelo nas laterais dos objetos (“Tênis Ela”, 2010)”, diz o curador.

Já em Lonas, a pintura se expande em grandes abstrações ao estilo de Jackson Pollock e o “all over”, mas também remetem a um certo “pixo” característico dos centros urbanos. Em Balanços, as figuras surgem como se fossem lançadas a partir do fundo. Nesta série, de grande liberdade, Luciana utiliza todas as técnicas possíveis, desde a pintura com pincel, mas também com a mão ou mesmo a tinta spray, sem permitir qualquer hierarquia entre as diferentes técnicas.

“No conjunto das obras, podemos observar a grande influência de Iberê Camargo na sua atitude de pintar quase em estado de confronto com a pintura. Luciana também é influenciada pela pintura alemã dos anos 1980 e 1990 e do neo-expressionismo como um todo”, afirma o curador e proprietário da Galeria Projeto Vênus, Ricardo Sardenberg.

Localizado na Travessa Dona Paula, em duas das casas construídas no final da década de 1940 para abrigar operários que trabalhavam na construção do bairro de Higienópolis, em São Paulo, o Projeto Vênus nasceu para oxigenar a nova geração de artistas e despertar a atenção no cenário nacional. Segundo Sardenberg, há uma quantidade considerável de artistas com trabalhos potentes, mas que ainda não foram absorvidos pelo mercado. Alguns deles já participaram de coletivas, mas muitos têm uma produção pronta para uma individual, como é o caso de Luciana Maas.

A Travessa Dona Paula é uma vilinha de pouco mais de 140 metros, em formato de L, escondida ao lado do Cemitério da Consolação. Além de um polo de arte contemporânea, com galerias e ateliês de artistas, reúne, ainda, cafés, padaria, e espaço de coworking em casas tombadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).

Sobre a artista
Luciana Maas nasceu em 1984, na cidade de São Paulo, onde trabalha como pintora há mais de 20 anos. Formada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, frequentou os ateliês dos artistas Osmar Pinheiro e Carlos Fajardo durante anos. Participou de inúmeros cursos promovidos pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo; pela Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro; pela Tate Modern, em Londres, Inglaterra, entre outros.

Iniciou sua prática através da figuração e do desenho de observação, mas logo expandiu seu repertório para a pintura gestual de linguagem mais abstrata. Atualmente, seu trabalho tem como tema o encontro visual com o inesperado, no próprio movimento de pintar, em tentativas de capturar a metamorfose do plano pictórico nele mesmo. Cada obra sua possui singularidades e demanda um longo processo para lograr seu resultado: que pareça inacabado, ainda em transformação.

Luciana teve uma importante experiência na residência que frequentou em 2018, na cidade de Salzburg, na Áustria. Sob a orientação do artista Ei Arakawa, produziu uma música e duas pinturas que foram expostas com o grupo no Salzburger Kunstverein Museum.

Participou de diversas exposições coletivas, entre elas “No Body Yet”, na Galeria Simone Subal, Nova York, EUA (2023); “Obra em Processo. Olhar Impertinente”, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo – MAC USP (2004) e “Diante do desconhecido: o Outro”, na Galeria de Arte Solar, Rio de Janeiro (2017).

Em 2022, realizou a exposição individual “Palafitas”, no Projeto Vênus, em São Paulo, SP, com a curadoria de Ivo Mesquita. No mesmo ano, a artista iniciou seus estudos em gravura em metal no Atelier Piratininga, em São Paulo, onde investiga traços finos por meio de técnicas que deram início à sua fase atual, dos fios dos balanços.

Sobre o curador
José Augusto Pereira Ribeiro é mestre e doutor em Teoria, História e Crítica de Arte pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Trabalhou como curador sênior da Pinacoteca de São Paulo, de 2012 a 2022, e diretor do núcleo de artes visuais do Centro Cultural São Paulo, entre 2010 e 2012.

SERVIÇO
Exposição Balanço
Artista:
Luciana Maas
Curador: José Augusto Ribeiro
Abertura: 13 de abril | Sábado | 14h
Visitação: até 9 de junho (domingo)
Onde: Átrio da Fundação Iberê (Avenida Padre Cacique, 2000 – Cristal)
No dia da abertura, a entrada é gratuita