Louise Bourgeois: uma vida que entrou para história da arte

17.maio.19

Louise Bourgeois (1911-2010) foi uma das artistas mais emblemáticas da história da arte de grande parte do século 20 e começo do 21: quebrou a barreira, até então existente no plano da teoria, entre a vida e a arte. Ela usou suas emoções como matéria-prima da sua obra, percorrendo temas como a sexualidade e a memória.

Sua carreira foi fortemente influenciada pelos eventos psicológicos traumáticos de sua infância, particularmente a infidelidade do pai. O tema principal abordado por Bourgeois, frequentemente chocante e sexualmente explícito, e o seu foco nas formas tridimensionais eram raros para as mulheres de sua época.

Na década de 1970, aos domingos, promovia salões em seu apartamento no bairro de Chelsea, em Nova York, onde estudantes e jovens artistas levavam trabalhos para serem analisados por Bourgeois, que podia ser implacável e se referia às reuniões, com humor tipicamente seco, como “Sunday, bloody Sunday”.

Relação maternal com as aranhas
A arte de Louise Bourgeois é conhecida pelo seu conteúdo temático altamente pessoal envolvendo o desejo inconsciente, sexual e do corpo. Os temas se baseiam em eventos da sua infância para os quais ela se apropriou da arte para realizar um processo terapêutico ou catártico. Transformou suas experiências em uma linguagem visual altamente pessoal, por meio do uso de imagens mitológicas e arquetípicas, adotando objetos como espirais, gaiolas, ferramentas médicas e as famosas aranhas para simbolizar a psique feminina, a beleza e a dor psicológica.

Em entrevista a Suzanne Pagé – curadora e atual diretora artística da Louis Vuitton Foundation for Creation, em Paris – e Béatrice Parent – curadora no Museu de Arte Moderna de Paris -, a artista explica a existência de um duplo tema no caso das obras em que representa a aranha: “A aranha é protetora, a nossa protetora contra os mosquitos. […] A outra metáfora é que a aranha representa a mãe. A minha mãe era a minha melhor amiga. Ela era inteligente, paciente, tranquilizadora, delicada, trabalhadora, indispensável e, sobretudo, ela era tecelã – como a aranha. Para mim, as aranhas não são aterradoras.”

Infância
Louise Bourgeois nasceu em Paris, em 25 de dezembro de 1911, e recebeu o nome de seu pai, Louis, que queria um filho homem. Na maior parte do ano, a família vivia no elegante St. Germain, em um apartamento acima da galeria onde os pais vendiam tapeçarias. Os Bourgeois também tinham uma villa e oficina no campo, onde passavam os fins de semana restaurando tapeçarias antigas.

Durante toda sua infância, Louise foi recrutada para ajudar lavando, reparando, costurando e desenhando. A oficina era supervisionada pela mãe Josephine, com quem tinha muita proximidade. Mas foram as tensões, particularmente o fato de que a amante de seu pai (que também era tutora de Louise) residia com a família, que mais tarde viriam a formar a arte altamente autobiográfica de Bourgeois.

Primeiros passos
No início da década de 1930, Louise Bourgeois estudou matemática e filosofia na Sorbonne. Depois da morte de sua mãe, em 1932, começou a estudar arte, se matriculando em várias escolas e ateliês, incluindo a Ecole des Beaux-Arts, Academie Ranson, Academie Julian e Academie de la Grande-Chaumière.

Seu primeiro apartamento em Paris ficava na Rue de Seine, no mesmo prédio de André Breton, da Galerie Gradiva, onde se familiarizava com o trabalho dos surrealistas. Em 1938, começou a exibir suas obras no Salon d’Automne e abriu a própria galeria em uma área separada do showroom de tapeçarias de pai, exibindo impressões e pinturas. Em sua curta carreira como negociante de arte, conheceu o historiador de arte Robert Goldwater, com quem se casou e se mudou para a cidade de Nova York em 1938.

Amadurecimento artístico
Chegando à Nova York, Bourgeois entrou para Art Students League e concentrou sua atenção na gravura e pintura, enquanto também teve três filhos em quatro anos.

Durante as décadas de 1940 e 1950, Goldwater lhe apresentou a uma infinidade de artistas, críticos e comerciantes de Nova York, incluindo o importante Alfred Barr, diretor do Museu de Arte Moderna, que comprou uma de suas obras para a coleção MoMA em 1953.

Consolidação e prestígio
O marido de Bourgeois morreu em 1973, mesmo ano em que ela que começou a dar aula em várias instituições da cidade de Nova York. Politicamente ativa como socialista e feminista, se juntou ao Fight Censorship Group, que defendia o uso de imagens sexualmente explícitas na arte. Louise fez várias de suas próprias obras sexualmente explícitas relacionadas ao corpo feminino, como Fillette (1968).

Spider (Aranha), 1991
Depois de permanecer por pouco mais de duas décadas abrigada em regime de comodato ao lado do Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, Spider, da artista francesa Louise Bourgeois, que integra a Coleção Itaú Cultural, chega pela primeira vez ao Rio Grande do Sul para uma temporada de dois meses na Fundação Iberê. A exposição fica em cartaz de 18 de maio a 28 de julho de 2019.

 

Imagem: Retrato Louise Bourgeois. Foto © Jeremy Pollard