Maior exposição do Grupo de Bagé inaugura dia 30 na Fundação Iberê

Roberta Amaral
19.nov.19

Grupo de Bagé – Os Quatro apresenta 180 obras de Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti, além de ilustrações dos clubes de Gravura de Bagé e Porto Alegre, livros e exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor e Globo

Para fechar seu programa de exposições de 2019, a Fundação Iberê inaugura no dia 30 de novembro uma mostra para celebrar o grupo de artistas gaúchos que foi fundamental na popularização da arte no Brasil e exterior: Carlos Scliar, Danúbio Gonçalves, Glauco Rodrigues e Glênio Bichachetti. “Grupo de Bagé – Os Quatro” vai ocupar dois andares da Fundação com 180 obras – 47 de Scliar, 54 de Danúbio, 35 de Glauco e 36 de Glênio -, ilustrações dos clubes de Gravura de Bagé e Porto Alegre, livros e exemplares raros das revistas Horizonte, Senhor e Globo.

Esta é a maior exposição do Grupo de Bagé nos últimos 20 anos, que faz um apanhado de diversas fases da vida e obra dos artistas. A Fundação Iberê e as curadoras Carolina Grippa e Caroline Hädrich iniciaram em março deste ano uma ampla pesquisa de documentação, reportagens de jornais e de cartas e reuniram trabalhos oriundos de 24 instituições e acervos particulares de Bagé, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Museu de Arte do Rio Grande do Sul Ado Malagoli (Porto Alegre), Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Pinacoteca de São Paulo, Museu Dom Diogo (Bagé) e Instituto Carlos Scliar (Cabo Frio, RJ) são alguns dos centros culturais que emprestaram obras, além de peças do espólio de Danúbio, Glênio e Glauco.

Ainda no dia 30, às 16h, o jornalista Roger Lerina vai conduzir a visita à exposição com dois convidados que conviveram com os artistas: o ator Sapiran Brito, que interpretou Leonel Brizola no filme Legalidade, do cineasta Zeca Brito, e o escritor Deny Bonorino, que, nas décadas de 40 e 50, fez parte do Grupo de Bagé. A música ficará por conta da violinista Clarissa Ferreira.

Juntos até o fim
Metade da década de 1940, longe do agito dos principais centros urbanos, os amigos Glauco Rodrigues e Glênio Bianchetti descobriram uma atividade diferente para passar o tempo nas férias de verão, em Bagé. Começaram ali seus exercícios de pintura e desenho e, a partir de 1948, junto com o já iniciado nas artes Danúbio Gonçalves, e outros curiosos, como Clóvis Chagas, Deny Bonorino e Julio Meirelles, passaram a aprofundar seus interesses nas técnicas e teorias clássicas.

Na cidade, ainda morava Pedro Wayne, escritor politicamente engajado que se correspondia com Erico Verissimo e Jorge Amado, além de ter relações com o pintor moderno José Moraes e, por conta disso, tornou-se o mentor intelectual daqueles tão interessados meninos. O círculo se fechou com a chegada de Carlos Scliar, que voltava de sua estada na Europa e participação na II Guerra Mundial, com uma recheada bagagem intelectual e contatos de artistas atuantes no conturbado cenário mundial.

O mais importante e profícuo contato de Scliar foi com Leopoldo Mendez, do Taller de Grafica Popular (TGP) do México, cujo trabalho influenciou o grupo de Bagé, especialmente na divulgação de causas políticas a favor da paz, da liberdade, dos direitos dos trabalhadores e da justa distribuição das riquezas. As técnicas de gravura, que facilitam a reprodução em grande escala, possibilitaram que as obras chegassem ao público de maneiras distintas: revista Horizonte e materiais publicitários e panfletos do Partido Comunista.

A produção do grupo também complementava a obra de Wayne, ilustrando as descrições das condições miseráveis nas quais viviam – e as humilhações a que eram submetidos – os trabalhadores da região, nas estâncias, charqueadas e nas minas de carvão.
Na década de 1950, foram criados o Clube de Gravura de Porto Alegre (1950) e o Clube de Gravura de Bagé (1951), os quais mais tarde se uniram e criaram um importante e independente sistema de divulgação dos artistas regionais, tomado como modelo até a atualidade. A participação nos clubes foi essencial para a consolidação da carreira dos quatro artistas, criando oportunidades que acabaram por separá-los.

Em 1956, com o encerramento das atividades dos clubes, cada um seguiu uma trajetória distinta, porém, sempre carregaram características de seus anos de formação, na produção de material gráfico e ilustrações para a Revista Senhor (Carlos Scliar e Glauco Rodrigues) e na constante volta aos temas regionais, em sua maior parte com um viés de crítica social.

E em 1976, os quatro artistas voltaram a produzir juntos em Bagé, em um encontro que resultou na criação do Museu da Gravura Brasileira e em obras que retomaram a temática regional, porém refletindo as mudanças e diferentes caminhos que cada um deles traçara após a separação.

Serviço:
Grupo de Bagé – Os Quatro
Abertura: 30 de novembro | Sábado | 14h
Visitação: Até 1º de março de 2020
Local: 3º e 4º andares
Entrada Franca