Estudo para a pintura No tempo, 1991
nanquim sobre papel
24 x 32 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D0414

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“[…] [O estudo para No tempo] tem em sua configuração uma paisagem, uma natureza-morta e figuras. Sua datação de 1991 indica a permanência desses temas na obra do artista, aqui sintetizados em densidade e em complexidade, características inerentes à poética de Iberê. A justaposição dos três temas na mesma obra nos esclarece que, apesar de seu desenvolvimento em tempos diferentes, sua permanência e mesmo simultaneidade são características de uma ideia orgânica de arte plenamente articulada, uma relação entre intenções, cálculo e investigações técnicas, um conjunto de ações cronologicamente situadas em busca de sua melhor e mais eficaz representação.
Se na obra de Iberê Camargo a paisagem surge como fundação de uma poética, permitindo seus desdobramentos em busca do domínio da própria arte da pintura, a natureza-morta vem como o meio ideal para desenvolver a construção do espaço pictórico, meio que lhe possibilitou o domínio absoluto do espaço visual. A figura é o fim, tanto como objeto de representação quanto como objeto de apresentação da sua necessidade de abordar o homem e suas inquietações, daquilo que é mais do que humano, ou seja, a própria essência dos seres e o que o distingue dos outros humanos e dos demais seres vivos.
[…]
Voltando ao estudo para No tempo, ao observar sua composição com duas figuras (uma mulher e um ciclista), a paisagem com montanha e nuvens e a mesa com carretéis e o lixo, compreendemos o ciclo que foi a carreira de Iberê Camargo: uma sequência ininterrupta de descobertas, invenções, desenvolvimentos, aperfeiçoamentos, esgotamentos, novas descobertas etc., ou seja, o contínuo de atividades intelectuais e artesanais que consumiu sua vida, inteiramente dedicada à invenção e ao fazer artístico. Uma vida dedicada como a de um operário, como ele mesmo afirmou ao dizer que ‘Pintar é um artesanato, é saber usar os instrumentos’.”

GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 11.