sem título, 1989
tinta de esferográfica sobre papel
23,5 x 32,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D0845

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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Os desenhos realizados por Iberê durante suas idas ao Parque da Redenção evidenciam fortes preocupações de fixar, por meio deles, o instante fugidio, e de captar o mistério das coisas.

As árvores desgalhadas, surradas pelo vento, com galhos tortos, pelas quais Iberê tinha muito apreço, remetem à paisagem como a metáfora de um estado da alma.

“As contínuas reformas na nossa cidade – a cidade é a nossa casa – nos transformam em forasteiros. O progresso é uma ação de despejo em execução. Por isso, um belo dia, na temida velhice, sentimos a incontida vontade de voltar a nosso pátio, para reaver as nossas coisas que lá deixamos.

Procuramos, nesse retorno, o velho cinamomo que nos fornecia a munição – seus pequenos frutos – para as nossas guerras, a velha laranjeira onde tantas vezes nos encarapitamos, brincando de esconder, e, enfim, as coisas que compunham nossa paisagem. Aí sentimos vontade de abraçá-las, de beijá-las, de chorar e de fazer como os gatos, que alçam a cauda e ratificam a posse. Mas aí percebemos assustados que o gato não tem mais força e que as coisas não estão mais.” (Iberê Camargo)