sem título, 1994
nanquim sobre papel
35 x 50,2 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo D0880
Foto © Fabio Del Re_VivaFoto
“Chamado às vezes de período sintético, toda a última produção de Iberê tende a apagar algumas diferenças polarizadoras. Mesmo quando a figura é uma latência e não adquire uma completa fisionomia corporal, o que temos são estágios de forma, vibrações, onde o linear e o pictórico se confundem. Compartilho a mesma consideração de Cecília Cotrim quando aponta nessas figuras novas ‘a dificuldade de se traçar limites entre um objeto e o feixe constituído pelo mundo, as essências, a vida, o solo’. Nesse processo de convergência artística, o lugar recuperado pelo desenho como princípio quase originário de criação, de possibilidade de dar virtualidade real à imagem, pode ser também o primeiro gesto pictórico, mas também o último. No caso deste último, Iberê acaba desenhando nas telas depois das diversas camadas de pintura. Essa articulação desenho-pintura vai estar presente na alta produção de guaches e desenhos mistos que o artista faz e onde o traço e os contornos de qualquer circunscrição questionam as características de estrutura e superfície, esboço e resultado final. […]
Também fica evidente no desenho desses exemplos que ‘o desenho é um fato aberto’ (como dizia Mário de Andrade), no sentido de que tem uma grande liberdade, uma capacidade de atuação rápida, translativa, talvez por quase chegar a ser uma escrita, a via mais confessional que existe num artista plástico. De fato, a fortalecida ‘recuperação’ do desenho como gênero contemporâneo, sobretudo a partir dos anos 80/90, seja como campo próprio ou híbrido, situa essa produção iberiana em outra sintonia mais próxima dos nossos dias.”
NAVAS, Adolfo Montejo. Conjuro do mundo: as figuras-cesuras de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2012. p. 11.