sem título, 1993
guache e nanquim sobre papel
35 x 50,3 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D0883

Foto © Rômulo Fialdini

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“Iberê havia instalado um manequim no ateliê. Naturalmente sem a intenção de seguir os ensinamentos rigorosos de André Lhote, exercitando-se na análise escrupulosa das formas humanas. Sua pintura já não é mais do que deformação e exagero grotesco. Os muitos desenhos que mostram manequins trazem à cena uma tensão entre dois seres femininos, como se a mulher só fosse representável sob essa dupla entidade enigmática: carne concreta e desgraciosa e imagem desejável e abstrata.
Essa dualidade remete, muito além do mito da mulher, à experiência da tensão entre o ideal e o real atual, armadura conceitual de toda a história da beleza na pintura e da representação idealizada da realidade. É a própria questão da verdade humana e de sua impossibilidade de concomitância com a beleza. Desde seu retorno à figuração, Iberê afastou-se de qualquer busca das seduções do belo. Neste ponto, ele pertence ao mundo contemporâneo da arte que somente se preocupa com a expressão de um anseio artístico por verdade. O manequim que serviu na obra de De Chirico para deixar para trás o formalismo cubista reveste, na obra de Iberê, a função de tensor entre uma vontade indomável de verdade expressiva e a lembrança de uma prática da pintura que visava à produção do belo, como bem mostram as obras anteriores a 1980.”

LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 34.