sem título, 1979
giz de cera sobre cartão
25 x 34,7 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D1152

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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Este desenho serviu de base para a confecção de tapeçaria. Em seu ateliê, Artesanato Guanabara, Maria Ângela de Almeida Magalhães orientava 70 bordadeiras que executavam tapeçarias a partir de cartões criados por artistas. As de Iberê também figuram no livro Aspectos da Tapeçaria Brasileira, de Geraldo Edson de Andrade (Spala, 1977 e Funarte, 1979).

“Uma noite, nos anos 1970, atendi a um telefonema, em que Iberê ia direto ao assunto. Vira uma exposição de tapeçarias na Galeria Grupo B, ao lado do seu ateliê, e pensava em fazer a experiência. Gostaria de mostrar-me um desenho erótico que havia feito. […] Iberê nos mostrou uma série de desenhos e, finalmente, o que escolhera. O assunto era forte, mas tratado com talento. Eu fiz a tapeçaria. […] Eram fios divididos de lã pura, misturados à seda, ao algodão, às texturas rústicas, às mais delicadas e finas linhas de bordar. Sem preconceito, buscando a composição da cor, já que, no que fazíamos, a cor era o principal desafio. […] Cada tapeçaria gastou, em média, seis meses de trabalho. […] A atitude de Iberê conosco sempre me surpreendeu pela entrega, confiança e respeito, fazendo com que ele, dono absoluto de suas coisas, fizesse parte de nossa equipe numa cumplicidade, sem discriminação pelo papel de cada um.”

MAGALHÃES, Maria Angela de Almeida. In: Iberê e a tapeçaria. Estudos Avançados, São Paulo, vol. 7, n. 17, jan.-abr. 1993.

 

“O desvendar do mistério – Iberê começou, para mim, quando ousei, a partir de seus cartões, fazer tapeçarias. Percorri o caminho do seu gesto, percebi o requinte das transparências, o vigor dos grafismos, a invenção das cores. Dessa época, guardo uma delicada impressão de muito respeito.
Vejo-o na humana convivência com as bordadeiras, vejo-o na plena atenção, cartão em punho, a acompanhar as soluções dadas. Responsável único pelo destino de tudo o que faz, a aceitar o trabalho de equipe e a assumi-lo, conosco.
Há uma condição comum às amizades do Iberê. É a de uma amorosa relação que se estabelece a partir do entendimento da pessoa do Iberê, admiração incondicional pelo artista e carinho pelo ser humano. Porque não é fácil ser Iberê Camargo. A construção de uma pessoa é tarefa de fidelidade de uma vida toda. Iberê se constrói com rigor e intensidade. E é, certamente, a representação viva das figuras fortes e suaves, de dramáticos contrastes, que ele mesmo pinta.
Como no seu trabalho, ele não faz a si mesmo concessão alguma. Nada nele é leviano ou supérfluo. Ele é a pura expressão de uma verdade interior, a vivência da paixão que tem pela vida. Exerce a sua gentileza, que não é a das convenções sociais, e é generoso ou rude, correspondendo ao que, espontaneamente, sente. É nesse compromisso com o próprio ser que está a chave da compreensão do seu caráter. Quem for capaz de entender, estará cativo para sempre.”

MAGALHÃES, Maria Angela de Almeida. In: BERG, Evelyn. Iberê Camargo: coleção contemporânea 1. FUNARTE, Instituto Nacional de Artes Plásticas/ Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro, 1985. p. 47. (Depoimento).