Cozinha da vó Chiquinha, 1941
lápis Conté sobre papel
23 x 27,4 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo D1802

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“Iberê: a nossa cidade ainda é quase a mesma. Os homens, as coisas, as casas e os gestos é que mudaram. O teu velho e lírico Liceu de Artes e Ofícios agora é escola de ensino dinâmico, justo ao preceito do momento. Os colégios modernos comprimem o ensino em veredas de adivinhações e aprendizado subliminar, que maltratam a geração de hoje e a do amanhã. A escola moderna nem sequer expulsa mais alunos travessos e peraltas como tu. Recupera-os nas salas de orientação para depois enterrá-los num cemitério de cruzes e assombros! Se a nossa Avó Chica Padroni (que o seu Deus a tenha junto dos seus três maridos!) fosse viva, renegaria, irada, os sintéticos e os erzatz da nossa alimentação toda envelopada e plastificada. A Avó Chica que vendia, no bairro Itararé, a melhor manteiga da Serra, desde Cruz Alta até Cachoeira, salgando-a com ternura nos bojudos tarros – desfaleceria ante os ignóbeis lambuzos da soja que nos impingem todo o santo dia! […]”

CARDOSO, Edmmundo. In: BERG, Evelyn. Iberê Camargo: coleção contemporânea 1. FUNARTE, Instituto Nacional de Artes Plásticas/ Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro, 1985. p. 36. (Depoimento).