Missa do pedido […], 1992
tinta de esferográfica e colagem sobre papel
18 x 25 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo D3419
Foto © Fabio Del Re_VivaFoto
“Tenho uma visão pessimista do Brasil, quase apocalíptica do mundo. Nossa independência não foi ainda alcançada. Discute-se a mudança do maquinista, não o rumo do trem. E só este importa. Com a filosofia do ‘eu gosto de levar vantagem em tudo’, não se constrói uma sociedade justa e feliz.
Vivemos vinte anos de prepotência, de mata e enforca. Nunca tanto poder em mãos de tão poucos. Poder que não salvou as nossas águas, que não salvou os nossos peixes, que não salvou as nossas florestas, que não salvou a nossa fauna, que não salvou a nossa flora, que não salvou as nossas riquezas do subsolo, que não salvou o homem brasileiro. Sinistro poder que só nos fez mal!”
CAMARGO, Iberê; MASSI, Augusto (org.). Gaveta dos guardados: Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2009. p. 138.
“Já a série de trabalhos assinados como Maqui, por exemplo, em denominação simbólica da resistência francesa durante a ocupação nazi, mostra parte de sua cosmovisão: estar diante de um território ocupado em que só cabe a guerrilha, a ação singular, esporádica. Essa frente de atuação estética, e cívica, […] atinge cotas peculiares, seja de liberdade tonal, de uma sátira em cores que transpira humor (ainda que às vezes seja negro, paródico, quase cruel). […]
[…] A vertente satírica de Maqui abriga não só a necessidade de interpelar o mundo, como de colocar uma posição definida, em desacordo com a negatividade vislumbrada. Assim, os desenhos rápidos, urgentes, correlatos para matérias, funcionando para ilustrações semânticas definidas (veiculadas em jornais, os meios de opinião cidadã) passam também uma vibração expressionista, e que artistas alemães como Georges Grosz ou Otto Dix potenciaram, trabalhando como numa frente social, objetivamente crítica, na moral da política.”
NAVAS, Adolfo Montejo. Conjuro do mundo: as figuras-cesuras de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2012. p. 17-20.