Carretéis no espaço, 1960
prova de estado
água-forte e água-tinta (lavis)
29,9 x 49,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo G082-2

Foto © Fabio Del Re_VivaFoto

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“[…] O verdadeiro amador de arte não é aquele que só se interessa pela obra acabada, mas aquele que se interessa pelo caminho percorrido pelo artista para chegar à obra definitiva, à expressão definitiva. Nos procedimentos da gravura, com poucas exceções, essa trajetória é sobejamente marcada pelas estampas sucessivas que o gravador tira nas diversas fases do trabalho. Essas cópias, na linguagem do métier, denominam-se estados. Em nenhuma outra técnica se pode registrar de maneira permanente e original o suceder-se desse esforço criador que me faz dizer que um quadro é um campo de batalha. No quadro a óleo, a última capa de cor tudo cancela, esconde sob sua espessura o arcabouço que apóia a estrutura. Dessa preparação, tão ardentemente sofrida, nada resta de visível, nada lembra esse subsolo da obra acabada. As mutações de uma pintura a óleo desaparecem irremediavelmente e só é possível documentá-la, mas nunca de maneira autêntica e original como na gravura.
Na gravura tudo fica registrado na cópia impressa. Depois, o artista prossegue no seu trabalho, a chapa se transforma, muda de face, já não existe, foi, mas não é mais, ou é somente parte. Antes do fim é sempre um devir. Compreende-se bem o interesse que esses estados despertam nos colecionadores. Confrontar os estudos de uma gravura é ver nascer a obra. A chapa ou madeira gravada representa a matriz, mas que, como vê, não diminui a originalidade das cópias que são originais e não réplicas como se poderia erroneamente julgar. A estampa é a gravura, pois que a matriz só existe esteticamente quando impressa. Renovo o apelo para que não se destruam as chapas, como fazem alguns com o fim de tornar raras as cópias. Considero esse procedimento uma aula de destruição […] que asseguremos por todos os meios a permanência da nossa produção artística.”

ZIELINSKY, Mônica. Iberê Camargo: catálogo raisonné. Cosac Naify: São Paulo, 2006. p. 73. (Fala de Iberê Camargo).