Núcleo, 1963
água-tinta (processo do açúcar)
24,7 x 36,4 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo G104-1
Foto © Fabio Del Re_VivaFoto
“E um dia eu fui a Jaguari, fui até o cemitério onde estão sepultados meus pais, próximo da viação férrea, da estação, e naquele momento por acaso passou um trem e a máquina expeliu uma fumaça negra, cuspiu aquela fumaça negra e ela toldou o azul, que era um céu assim de dia de muito azul, puro azul, e aquela mancha encobriu o cemitério como um véu escuro, e depois foi esgarçando, o véu foi se esgarçando, foi esmaecendo, se expandindo, e sempre aquilo ali me inspirou aqueles núcleos em expansão… as coisas que se expandem, compreendes, que se expandem… E veio dali essa idéia de expansão de núcleos, daquelas formas que se expandiam. Isso eu colhi ali em Jaguari, naquele momento.”
COTRIM, Cecília. A paixão na pintura. Novos Estudos Cebrap, São Paulo, n. 34, 1992: p. 115. (Fala de Iberê Camargo).
“Das Fiadas de carretéis, explodem os carretéis entre 1963 e 1966. Em um momento histórico de grande tensão política no país, a arte brasileira se desenvolve em meio aos influxos das vanguardas e a um veio altamente experimental. Os movimentos da contracultura, presentes no meio internacional, se alastram na cultura do país. Nesse contexto, Iberê segue seu trabalho de arte motivado por suas convicções sobre as questões da pintura. Estende-as mais ainda, pois seus Núcleos e Núcleos em expansãoestouram bruscamente os carretéis, através da tensão imprescindível a toda grande arte. Essas obras são resultados do ápice da ação do corpo sobre as telas que, em sua obsessão, rompem definitivamente com a representação dos objetos. Uma gravura acompanha essas pinturas, seu Núcleo de 1965, obra que dilacera e extravasa, em direção às margens da mancha, as mais profundas dúvidas que provêm de um cerne estourado.”
ZIELINSKY, Mônica. A inquietude da arte. In: ZIELINSKY, Mônica; DUARTE, Paulo Sergio; SALZSTEIN, Sônia. Moderno no limite. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2008. p. 21.
“Na gravura, Iberê praticou várias técnicas, como maneira-negra, litografia, aquatinta e outras mais. Sua obra gravada tende a evitar os relevos, porque comoções na superfície do papel sem a intervenção do artista. Não imprime cicatrizes: sulca feridas. Para Iberê gravador, o momento tenso de relação agressiva com a matéria se concentra no ato de gravar: a oposição entre instrumento e chapa. A força visual de sua obra gravada parece estar na fixação do movimento de dança e expansão ou no estabelecimento de equilíbrios, na valorização do branco e na dramaticidade do negro, dos cinzas-escuros. Algumas de suas gravuras só podem ser comparadas com o vigor gráfico de obras como o desenho de Amílcar de Castro.”
HERKENHOFF, Paulo. Alguns do múltiplo Iberê. In: BERG, Evelyn. Iberê Camargo: coleção contemporânea 1. FUNARTE, Instituto Nacional de Artes Plásticas/ Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro, 1985. p. 59.