sem título, c.1941/1942
óleo sobre tela
49,5 x 45,5 cm
Acervo Fundação Iberê
Tombo P014
Foto © Fundação Iberê
“Tudo especifica uma ordem poética e um lugar, gênese que atua a partir dali. São paisagens que, como paisagens, não vão se repetir nunca mais – Iberê não foi um paisagista. Permanecem, sobretudo, como um daqueles documentos autênticos da arte que só ela revela sem artifícios. Expressam já tão precocemente esse agarrar-se desesperado à pintura que identifica imediatamente um expressionista; ainda que sejam paisagens, o assunto é o homem e a condição humana. A natureza, sociedade, coisas são transfigurações dessa mesma visão, fenômenos em graus diferenciados da existência humana possível – este o empirismo trágico de Iberê. Trágico é ver tudo dessa maneira, de dentro e não de fora, a partir de um dentro que se projeta para fora, desgovernado, ameaçador, absurdo. Visão poderosa, violenta e primitiva, a mesma fatalidade de um outro provinciano agoniado, Van Gogh.
Todo expressionista autêntico está sempre no limite da abstração. O real é abstrato e o abstrato real, objetividade e subjetividade se confundem, são forças da mesma ordem, indistintas. Portanto, as pinturas de 42 são espiritualmente abstratas. Seria pobre ver nelas apenas tentativas de um gênero de pintura. […]”
VENÂNCIO FILHO, Paulo. Iberê Camargo: desassossego do mundo. Rio de Janeiro: S. Roesler: The Axis Instituto Cultural, 2001. p. 14.
“Esses primeiros trabalhos contrastam no ainda rarefeito ambiente artístico do Rio Grande do Sul. Perturbam a concepção da pintura em circulação no meio de arte local. A própria experiência do pintor sobrepõe qualquer influência de cosmopolitismo ou modelos artísticos, pois defende que as obras deveriam partir de sua apreensão particular do mundo, como a de ‘um ardoroso defensor da liberdade e independência do artista’. Seu trabalho interroga desde simples paisagens cotidianas em suportes acanhados a serena ordem das convenções da arte do Sul do país, ainda tão fascinada pelas sedutoras incursões artísticas do impressionismo europeu: ‘Efetivamente, a sociedade gaúcha no início dos anos 40 não tinha condições de absorver o grau de inovação pretendida por poucos […]’, conclui Marilene Pieta.”
ZIELINSKY, Mônica. A inquietude da arte. In: ZIELINSKY, Mônica; DUARTE, Paulo Sergio; SALZSTEIN, Sônia. Moderno no limite. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2008. p. 14.