Contraste, 1982
óleo sobre madeira
25 x 34,5 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P094

Foto © Fundação Iberê

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“Ao longo dos muitos anos durante os quais Iberê explorará esse tema [do carretel], a materialidade da pintura ganhará cada vez mais importância, fazendo da forma do objeto um elemento cada vez menos decisivo. O próprio título das obras muda, e a palavra ‘carretel’ é substituída por ‘brinquedo’, ‘figura’, ‘contraste’, ‘símbolos’ ou, ainda, ‘signos’. Desde então, o olho retém primeiramente a presença sensível da cor que praticamente adquire volume, como uma massa resplandecendo da própria matéria, profunda e sensual. É sobre esta matéria, que se torna matéria-prima, que o desenho vem então se superpor. Neste corpo a corpo com a cor, o traço do pincel torna-se cada vez
mais visível, atestando a força dinâmica do gesto. Assim, abre-se um capítulo novo na pintura de Iberê que se libera pouco a pouco dos limites dos objetos para dar maior importância ao impulso do próprio gesto de pintar.
Essa evolução para uma pintura por vezes fortemente gestual conduzirá Iberê às fronteiras da abstração através da exploração de formas muito simples como aquela do dado. […]”

LEENHARDT, Jacques. Iberê Camargo: os meandros da memória. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2010. p. 32.

 

“Com Iberê, o corpo-a-corpo do pintor com a tela talvez atinja sua máxima significação. A acumulação de matéria, as raspagens e incisões por um lado; por outro, a construção-desconstrução de signos, que criam camadas sucessivas, que se escondem uns por baixo dos outros; e, ainda, as acumulações de cores, que vem do fundo, que se modificam sucessivamente, cada vez mais sombrias (talvez, pela própria acumulação), que criam e recriam nuances, sutilezas, muitas vezes por obra do acaso – reações plásticas e/ou químicas de cores sobrepostas e justapostas. Razões internas da própria pintura.
O corpo da pintura não é passivo: carne, osso, pele, sangue. Corpo que possui, também, suas próprias leis, não biológicas, mas plásticas. ‘As formas e cores mais premeditadas, quando se concretizam sobre a tela, são sempre surpresas.’ E o primeiro a surpreender-se é, sempre, o pintor. O quadro se autogera até certo ponto, o pintor descobre, incessantemente, a pintura, e se descobre na pintura.
‘Desejo atingir uma coisa simples, atingir a boa forma com economia de traços. Mas o simples não nasce logo. A matéria tem que virar víscera, para depois ser. Tudo nasce da dor’.”

CATTANI, Icleia Borsa. In: BERG, Evelyn. Iberê Camargo: coleção contemporânea 1. FUNARTE, Instituto Nacional de Artes Plásticas/ Museu de Arte do Rio Grande do Sul: Rio de Janeiro, 1985. p. 51.