sem título, 1978
óleo sobre madeira
25 x 35 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P095

Foto © Fundação Iberê

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“Para além de manter-se vinculado a uma história inexorável da pintura que surge a cada vez que o pintor age sobre a superfície da tela, apropriando-se, de modo mais ou menos intencional, de um conjunto de soluções pictóricas prévias, o que mais interessa é a possibilidade de tal prática continuar produzindo surpresas para o olho. A densidade histórica da pintura leva necessariamente a um adensamento do tempo da percepção, a um tipo de experiência perceptiva oposta à dispersão e afetação da imagem-movimento contemporânea. A pintura, diferentemente dos meios técnicos de produção de imagens, mais do que exigir, produz um olho sensibilizado pela materialidade da aparência, como que sempre percebendo as coisas com um olho-tátil, um olho que toca a pele do mundo. A própria luz na pintura diferencia-se por ter espessura; é uma luz-matéria.
Desse modo, vemos que a obra de Iberê, depois de ter ‘transformado a natureza em ritmos e sensações coloridas’, vai dar à pintura uma densidade material absolutamente determinante. Não era à toa sua briga obsessiva por boas tintas. A técnica não é um instrumento experimental, mas um processo experiencial. Ela não é um meio manipulável de fora, mas uma experiência vivida de dentro. A pintura em Iberê não é comunicação visual, mas formação visual. A forma nasce de dentro das camadas de tinta, do movimento das pinceladas, que ficam na superfície da tela para serem tocadas pelos olhos que as vêem.”

OSORIO, Luiz Camillo; SALZSTEIN, Sônia (org.). Diálogos com Iberê Camargo. São Paulo: Cosac Naify, 2003. p. 73-74.