sem título, c.1959
óleo sobre papel
38,5 x 56 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P141

Foto © Rômulo Fialdini

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“[…] Objetos do cotidiano da infância do artista, os agitados carretéis, por mais de 30 anos, se disseminam na obra de Iberê. Com importância de origem biográfica, eles ingressam na poética do artista como objetos de suas ‘reminiscências’ e incorporam dentro de si diversas possibilidades artísticas. Trazem a essa arte interrogações sobre o seu lugar no espaço da pintura, suas relações com a realidade e a matéria da arte, os movimentos antagônicos que contrastam energicamente no interior das telas, até as tentativas obsessivas de quase extrapolar os suportes.”

ZIELINSKY, Mônica. A inquietude da arte. In: ZIELINSKY, Mônica; DUARTE, Paulo Sergio; SALZSTEIN, Sônia. Moderno no limite. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2008. p. 17-18.

 

“A figuração foi progressivamente abandonada a partir do final da década de 1950. Devido a uma permanência forçada no ateliê por motivos de saúde, Iberê voltou-se a representação de objetos. Essa etapa de sua obra deu início ao estudo da forma emblemática dos carretéis, que evocavam uma lembrança da infância, quando vasculhava as gavetas de sua casa à procura de tesouros e encontrava esses objetos já sem linha, em sua forma pura. Para Iberê, eles foram tema e elemento formal simultaneamente. Nessa fase de amadurecimento e de consolidação de sua obra, as figuras migraram progressivamente da figuração a abstração, mudando os lugares nos quais habitavam.”

CATTANI, Icleia Borsa. Paisagens de dentro: as últimas pinturas de Iberê Camargo. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 12.

 

[…] Nessa pintura as formas dos carretéis dominam todo o campo visual. Ela é plenamente frontal e toda a animação, a despeito do rigor da composição, se dá pela rigorosa paleta de cores. O fundo, praticamente uniforme, acolhe as pilhas de carretéis, ordenados hieraticamente à esquerda e sobrepostos à direita. Dois elementos quebram esse rigor formal: a esfera (reminiscência de uma fruta das naturezas-mortas) e o carretel deitado. As cores baixas são derivadas do fundo: preto, marrom, ocre e terra. A luz vem pelas reservas não cobertas por tinta, como nos contornos da fileira central de carretéis e nos pequenos toques luminosos dos dois carretéis à direita.”

GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 42.