Outono no Parque da Redenção II, 1988
óleo sobre tela
65 x 92 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P166

Foto © Fundação Iberê

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“Assim, em Outono no Parque da Redenção, de 1988 mostra esses ciclistas, andarilhos, seres ‘sem norte’ – como os chamava Iberê – que não são mais do que uma alegoria do seu julgamento acerca do destino atual da humanidade. Como assinalou Lisette Lagnado, o nome da série (Parque da Redenção) não é apenas uma referência ao parque que efetivamente existe em Porto Alegre, aponta a uma dimensão ética. Nesse parque desolado pelo outono – o outono da idade? – os homens representam sua comédia como arquétipos da vida e da morte, das pulsões primeiras. Pedalam sem descanso, esperando uma redenção que pareceria que nunca fossem alcançar.
Como em um círculo no qual passado e presente se amalgamam, as paisagens de Iberê, tanto como tema autônomo ou como suporte de outras composições, remetem a uma modalidade expressiva na qual predomina a subjetividade. ‘A nitidez do espírito’, em detrimento da do olho, na velhice, etapa que obcecava o artista. O homem-pintor sempre está presente, é ele quem constrói o nexo entre a natureza e a cultura que define a paisagem contemporânea.”

HERRERA, María José. Iberê Camargo: um ensaio visual. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2009. p. 13.

 

“A série dos Ciclistas, ou dos Ciclistas da Redenção, é um momento raro de humanismo nesta fase da obra de Iberê Camargo, no qual a possibilidade de socialização entre os indivíduos ainda parece possível. Vistos em grupos, ou mesmo solitários, esses ciclistas trafegam pelos parques e ruas esvaziadas da capital, tendo como objetivo único circular. A precisão do desenho que define as formas está associada a uma densa matéria pictórica, demonstrando uma intensidade excepcional na abordagem do tema. As pinturas Outono no Parque da Redenção I e Outono no Parque da Redenção II são composições complexas, com figuras em espaços fechados e sufocantes. A natureza está presente, mas não é propícia, ao contrário, parece adversa e opressiva. Mesmo nesse cenário pouco favorável esses pequenos grupos ainda mantêm resquícios de sociabilidade, mesmo que não se desloquem na mesma direção, eles se confrontam e se observam e seguem todos seus trajetos. Não há um destino aspirado, há somente o destino compartilhado momentaneamente, fugazes instantes de confronto e enfrentamento na solidão comum.”

GOMES, Paulo. Iberê e seu ateliê: as coisas, as pessoas e os lugares. Fundação Iberê Camargo: Porto Alegre, 2015. p. 104.