sem título, c.1940
óleo sobre madeira
30,5 x 40 cm
Acervo Fundação Iberê

Tombo P215

Foto © Fundação Iberê

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“As primeiras pinturas e desenhos, ainda nos primórdios de 1940, evidenciam desde cedo fortes preocupações de fixar, por meio delas, o instante fugidio, de captar o mistério das coisas. Essa aspiração inicial permanece em depoimentos, mas ganha importância artística ao se projetar na elaboração das obras em dimensão reduzida que se mostram densas de matéria e são, particularmente, testemunhos de um obsessivo espírito moderno de pesquisa. A pintura de Iberê desde esses tempos aponta discussões nela mesma, entre seus elementos, a tal ponto que céus, vegetação ou riachos pouco importam, permanecem quase ocultados sob a forte pastosidade da substância pictórica; a inquietude sugerida nos quadros provém do gesto nervoso e do manejo intermitente de pinceladas que quase abraçam as telas ao recobri-las por inteiro. A tortuosidade no emprego da matéria não deixa clareza quanto à percepção dos elementos ali tramados, traz ao primeiro plano a idéia de um organismo nascente, violento no ato do pintor ao fazer pintura, instável para quem se defronta com eles. O trágico inculcado nesses pequenos quadros é a sua incerteza, a que funda sua elaboração, certa confusão saturada de cor e das rápidas marcas do gesto.”

ZIELINSKY, Mônica. A inquietude da arte. In: ZIELINSKY, Mônica; DUARTE, Paulo Sergio; SALZSTEIN, Sônia. Moderno no limite. Porto Alegre: Fundação Iberê Camargo, 2008. p. 14.