Os pequenos fragmentos na obra de Marco Maggi que demandam um olhar atento do espectador
Exposição La economía de la atención
Fundação Iberê
15 de novembro, sábado, às 14h
No dia da abertura, a entrada é gratuita
A Fundação Iberê inaugura no dia 15 de novembro a exposição La economía de la atención, do artista uruguaio Marco Maggi. Nascido em 1967 em Montevidéu, ele divide seu tempo entre Nova York e a cidade natal criando trabalhos em pequenos fragmentos de papéis das mais diversas cores, materialidades e recortes. Utilizando humor, jogos de palavras e uma variedade de alusões visuais, Maggi incentiva seus espectadores a desacelerar e refletir sobre os detalhes e as complexidades de cada objeto.
Com curadoria de Patricia Bentancur, que acaba de ser anunciada como a responsável pelo Pavilhão do Uruguai na Bienal de Veneza em 2026, La economía de la atención apresenta doze trabalhos, entre desenhos, instalações, elementos do cotidiano como rolo de tinta, bola de pingue-pongue, mesa de sinuca e colagens com papeis recortados, uma das marcas do artista. Na Fundação, ele criará uma obra inédita, de grandes dimensões, a partir de pequenos recortes em papel.
Uma das esculturas, Construir y demoler (dibujo a lápiz), é composta por 576 lápis no chão. Já em La sociedad subatómica, o artista utiliza ponta-seca sobre 16 bolas de bilhar incolores em uma mesa de sinuca preta.
De acordo com Patricia, La economía de la atención propõe uma reflexão sobre os modos como a atenção se constrói e é direcionada. Uma vez que as obras de Maggi configuram um sistema visual de estruturas mínimas, quase imperceptíveis, compreendê-lo é entrar em um código analógico de um algoritmo que se repetirá e reformulará uma e outra vez. Micro cortes em papel, incisões sobre acrílico ou grafite, que só existem a partir do intangível: a luz e a sombra.
“A força do título – La economía de la atención – reside nessa oscilação: não designa univocamente, mas abre um campo de tensões que cada visitante deve negociar em seu percurso. A experiência da exposição pode ser percebida como uma reflexão sobre a lógica global da informação ou como um manifesto sobre a necessidade de prestar atenção, devagar e de perto, ao que se nos apresenta como realidade. Trata-se, então, de uma economia política da visibilidade – mercado de dados, circulação de imagens, consumo cultural – ou de uma economia íntima, pessoal, de como cada espectador distribui seu tempo e sua concentração, seja diante destes trabalhos (obras, exposição), seja diante da complexidade da vida cotidiana”, explica a curadora.
Interrogando a contemporaneidade
Com o olhar de um escultor e a precisão de um cirurgião, Marco Maggi conquistou reconhecimento internacional por criar desenhos abstratos e detalhados utilizando materiais comuns como grafite, estilete, Claybord, acrílico, papel de escritório ou papel alumínio. Suas obras já foram comparadas a microchips, mapas, hieróglifos ou códigos genéticos. Utilizando humor, jogos de palavras e uma variedade de alusões visuais, Maggi utiliza seus processos meticulosos para explorar a relação entre informação e conhecimento em nosso mundo contemporâneo.
Em texto sobre o trabalho de Maggi, na ocasião em que o artista representou o Uruguai na Bienal de Veneza de 2015, o filósofo François Cusset, pontuou acerca do método do artista: “traços lidam com o significado; eles qualificam o que merece ser inscrito: por outro lado, o insignificante não deixa rastros, o banal não tem memória, tudo desaparece com o instante de sua relevância. Marco Maggi vira essa ordem estabelecida de cabeça para baixo; esculpindo e cortando, ele transforma o insignificante em traço, o vácuo em arquivo, a sombra em alfabeto, o detalhe em cosmos e as mais ínfimas variações naquela famosa revolução que havíamos desistido de esperar”.
O resultado de sua arte meticulosa e analógica é ao mesmo tempo enigmático e fascinante. Em um nível formal, gravando ou recortando formas, o artista adiciona uma terceira dimensão aos seus desenhos e compõe como um escultor, usando luz, sombra e espaço, negativo e positivo. Em um nível semântico, com uma gramática detalhada, Maggi retrata um mundo movido por elementos minúsculos.
Combinando diversos desenhos bidimensionais e tridimensionais em instalações de grande escala que se percorrem como uma caça ao tesouro, suas obras são instaladas em ângulos, alturas e locais inusitados, de modo que cada uma delas parece uma descoberta. O trabalho de Marco Maggi funciona como um antídoto ao excesso de informação transmitida por redes de mídia e telecomunicações cada vez mais complexas e rápidas.
O artista já expôs em diversos países, tendo participado da 25ª Bienal de São Paulo, em 2002; da 8ª Bienal de Havana, em 2003, e da 29ª Bienal de Pontevedra, Espanha, em 2006. Na Bienal de Veneza de 2015, Marco Maggi foi o artista convidado para representar o Uruguai no pavilhão do seu país de origem.