Aniversário: Projeto Álvaro Siza | 15 anos

05.maio.23

A Fundação Iberê preparou uma programação especial para celebrar os 15 anos do centro cultural, um prédio de fachadas brancas, linhas sinuosas, arestas afiadas e rampas internas e externas, já apontado como um dos mais sofisticados projetos arquitetônicos do mundo e um dos mais avançados do ponto de vista técnico na manutenção, preservação e apresentação de obras de arte. O edifício segue padrões internacionais de iluminação, controle de temperatura, abastecimento de água, tratamento de esgoto e prevenção de incêndios. É praticamente uma escultura concebida pelo arquiteto português Álvaro Siza para o recorte do terreno, preservando a mata ao redor e sem ultrapassar a altura da velha pedreira que lhe faz fundos. As poucas aberturas da construção foram calculadas com precisão cirúrgica, para enquadrar perfeitamente a paisagem e valorizá-la, sem tirar a atenção das obras expostas.

As atividades são gratuitas e incluem mediação arquitetônica; passeio na trilha ecológica da Fundação, assinada pelo ambientalista José Lutzenberger; oficinas e duas apresentações musicais com Paola Kirst, que interpretará textos de Iberê Camargo acompanhada do Grupo Kiai e Mel Souza.

PROGRAMAÇÃO

13 de maio | Sábado
15h – Oficina Iberê Camargo e a Cidade
Oficineira: Bárbara Rodrigues (arquiteta e arte-educadora)
Descrição: Relação entre imagens impressas de diversos lugares da cidade com algumas obras que Iberê Camargo pintou de Porto Alegre. Quais são os lugares de afeto das crianças na cidade, onde costumam ir, o que costumam ver? Como é o entorno de onde moram? Tens a oportunidade de caminhar e parar para observar? Há sonho no que se vê? Que outras cidades são possíveis?  As crianças serão convidadas a misturar realidade e ficção em representações, através de desenhos e pinturas da cidade.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas AQUI 

15h – Oficina Experimentação fotográfica na Trilha
Oficineiros: Tuane Eggers e Beto Mohr (dupla artística)
Descrição: A oficina propõe refletir sobre o papel da arte como ferramenta de tradução, propagação e resgate afetivo das relações com outros seres vivos no planeta, diante da crise ecológica que atravessamos e do diálogo próximo que a arte vem estabelecendo com essas questões. Os participantes serão convidados a experimentar a percepção por meio de um passeio fotográfico realizado na trilha da Fundação Iberê, que foi idealizada, junto ao projeto arquitetônico que comemora 15 anos, como um espaço de associação entre arte e natureza.
Em caso de chuva, a atividade será remarcada.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas AQUI 

14 de maio | Domingo
15h – Oficina Bonecas Feias e “Idiotas” de Iberê
Oficineira: Cláu Paranhos (artista)
Descrição: Durante uma mediação, os participantes observarão como a série “Idiotas” e os desenhos presentes na exposição Iberê Camargo: Desenhos podem nos inspirar a soltar a manualidade para, no ateliê do Educativo, explorar o universo das Bonecas Feias.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 10 anos
Inscrições gratuitas AQUI 

17h – Iberê Musicalizado com Paola Kirst e Grupo Kiai
Descrição: Interpretação musical de textos e frases de Iberê Camargo.
Em caso de chuva, o show será remarcado

20 de maio | Sábado
15h – Oficina Fundação Iberê e a Cidade
Oficineira: Bárbara Rodrigues (arquiteta e arte-educadora)
Descrição: Os participantes serão convidados a evocar memórias, escrever lembranças, construir e imaginar paisagens, sejam elas do passado, presente ou futuro.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 14 anos
Inscrições gratuitas AQUI 

21 de maio | Domingo
15h – Mediação arquitetônica para crianças com produção de instalação
Oficineira: Ana Paula Bertoldi (artista multidisciplinar)
Descrição: A partir de um passeio pela arquitetura da Fundação, de forma investigativa e lúdica, os participantes serão estimulados à observação para as diferentes formas e ângulos do prédio. Em seguida, serão convidados a construir uma instalação. Tecidos, fita crepe, papéis, fios diversos e materiais para desenho serão alguns dos materiais explorados.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas AQUI 

27 de maio | Sábado
15h – Mediação arquitetônica Fundação e Trilha Ecológica com tradução em Libras
Tradutora: Simone Dornelles
Descrição: Mediação com foco na arquitetura do prédio, seus aspectos estruturais, compositivos e históricos e a sua relação com a arte. O público será também apresentado à trilha ecológica.
Número de participantes: 20
Inscrições gratuitas AQUI 

18h – A Fundação e parceria com a Grupo WOC/Visual apresentam um recorte expositivo em vídeo mapping na fachada do prédio. Serão projetadas obras de Iberê Camargo e de artistas que expuseram na instituição, como Magliani, Eduardo Haesbaert, Xadalu, Arnaldo de Melo, Daniel Melim, Santídio Pereira, André Ricardo, bem como da exposição Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul.

28 maio | Domingo
17h – Iberê Musicalizado com Paola Kirst e a pianista Mel Souza
Descrição: Interpretação musical de textos e frases de Iberê Camargo
Local: Auditório da Fundação Iberê

30 de maio | Terça-feira
Lançamento do edital de residência artística Iberê/CMPC
A Fundação Iberê e a CMPC retomam a parceria, oferecendo duas bolsas de R$10 mil, além de verba de produção, para residência no Ateliê de Gravura para artistas que vivem no Rio Grande do Sul. Mais informações sobre o edital e inscrições no site www.iberecamargo.org.br.

Sobre a Fundação Iberê
30 de maio de 2008. Maria Coussirat Camargo recebe nomes importantes da sociedade, artistas e curadores de renome internacional e autoridades, como o então ministro da Cultura Gilberto Gil, para a inauguração da Fundação Iberê. Criar um espaço que consagrasse a obra do artista era um desejo do pintor, que aflorou nos seus últimos anos de vida. Tomado por uma metástase pulmonar e ciente de que não tinha mais tempo a perder, ele revia obra por obra, escrevia suas memórias e, sim, produzia. A última tela, SOLIDÃO, foi assinada no final de julho de 1994, há menos de dez dias do falecimento do artista.

Iberê Camargo deixou mais de cinco mil obras guardadas na residência do casal, no bairro Nonoai, zona sul de Porto Alegre, a maior parte delas catalogadas em cadernetas por Dona Maria, a “sombra e luz de Iberê”, como bem definiu o crítico de arte Paulo Herkenhoff.

A partir daquela noite de 30 de maio, Iberê Camargo: moderno no limite 1914-1994, uma exposição que reunia um conjunto significativo de obras de diferentes fases do artista, com curadoria de Mônica Zielinsky (RS), Paulo Sergio Duarte (SP) e Sônia Salztein (SP), faria com que Porto Alegre entrasse para o cenário internacional das artes e, também, da arquitetura.  

Fundação Iberê. Um prédio de fachadas brancas, linhas sinuosas, arestas afiadas e rampas internas e externas, já apontado como um dos mais sofisticados projetos arquitetônicos do mundo e um dos mais avançados do ponto de vista técnico na manutenção, preservação e apresentação de obras de arte. O edifício segue padrões internacionais de iluminação, controle de temperatura, abastecimento de água, tratamento de esgoto e prevenção de incêndios. É praticamente uma escultura concebida para o recorte do terreno, preservando a mata ao redor e sem ultrapassar a altura da velha pedreira que lhe faz fundos. As poucas aberturas da construção foram calculadas com precisão cirúrgica, para enquadrar perfeitamente a paisagem e valorizá-la, sem tirar a atenção das obras expostas.

O espaço da Fundação conduz o visitante, logo na chegada, a subir de elevador até o último andar. De lá, segue pelas rampas até o átrio, percorrendo as salas de exposição distribuídas nos três andares superiores. O prédio tem estrutura monolítica, sem pilares, vigas e lajes. São as paredes maciças que suportam o carregamento da estrutura e garantem a estabilidade horizontal do conjunto – o que lhe dá ares de uma gigantesca escultura. 

Como tudo começou
No final dos anos 1980, o empresário Jorge Gerdau Johannpeter foi apresentado a Iberê por Cézar Prestes, marchand do pintor entre 1981 e 1994. Um amigo em comum, o desembargador Milton Soares, comentou sobre a coleção de Gerdau e seu desejo de conhecer o artista pessoalmente.

Prestes conversou com Iberê, que, prontamente, convidou o empresário para visitar seu ateliê. “Iberê era um homem carismático, envolvente. Nos alimentava culturalmente, e não foi diferente com Jorge Gerdau”, recorda o marchand.

Naquele dia, Iberê Camargo finalizava uma dezena de guaches da série Idiotas. As obras impactaram tanto o casal Jorge Gerdau e Maria Elena, que compraram de imediato quase toda a série. Só não levaram o conjunto naquele momento porque ainda estavam úmidas e, consequentemente, sem assinatura.

A partir daquele encontro, Jorge Gerdau não seria apenas um admirador que virou amigo. Visionário, estava decidido a levar o nome de Iberê Camargo para o mundo.

Iberê era exigente, fazia obras para serem eternas e estudadas nos detalhes. Enquanto produzia, Dona Maria catalogava uma a uma – pinturas, gravuras, guaches, desenhos –, o que vendia e o que guardava. “Tudo que Iberê produzia para venda, fazia uma para o acervo, criando uma linha do tempo do seu trabalho. Sua maior preocupação era com a segurança financeira de Dona Maria após sua morte”, lembra Prestes.

Mas um museu dedicado à sua produção não estava nos planos do artista. A ideia começou a ganhar forma quando a doença avançou.

Iberê Camargo faleceu em 9 de agosto de 1994. Após o sepultamento no Cemitério João XXIII, Prestes voltou para casa levando junto a bandeira do Brasil que fora esticada no caixão. Das poucas ligações que conseguiu atender após o enterro, uma delas foi de Jorge Gerdau. Ficaram mais de trinta minutos recordando Iberê, sua trajetória no mundo da arte e a importância de manter o seu legado.  A última frase dita por Gerdau naquela ligação daria visibilidade cultural e urbanística para Porto Alegre: “Vamos construir a Fundação Iberê Camargo”.

Uma Fundação para o mundo
“Tive a oportunidade de conhecer e conviver com Iberê. Seu acervo era fantástico – ele sempre guardou obras, mas esse mérito tem muito de Dona Maria, que anotava tudo. Inclusive ajudou muito na gestão do acervo da Fundação. Nos seus últimos anos de vida, várias vezes Iberê me falou: ‘Jorge, o que vamos fazer com este acervo?’’, lembra Gerdau.

Sensibilizado com a partida do amigo e comprometido com o futuro do acervo ao lado de Dona Maria, ele procurou empresários para falar sobre a possibilidade de criar um museu para Iberê Camargo. Também buscou amigos do artista no Rio de Janeiro para pensar o acervo. Transformar a casa do casal no bairro Nonoai em um museu foi uma opção logo descartada. Não havia espaço para preservar de forma adequada as mais de cinco mil obras.

Em 3 de outubro de 1995, a Fundação Iberê foi oficializada e constituída por Maria Coussirat Camargo (presidente de honra), Jorge Gerdau Johannpeter (presidente-executivo), Ronaldo Brito (diretor de patrimônio), Justo Werlang (tesoureiro) e Cristina Aguiar (secretária-geral). A instituição teve como sede provisória, até 2008, o ateliê do artista na zona sul da Capital.

Além dos cursos no Ateliê de Gravura, lá nasceu o projeto Artista Convidado, que recebeu um número significativo de artistas residentes, nacionais e internacionais, para produção de gravuras em metal.

Naquele período, o ateliê também abrigou o acervo e a equipe de catalogação das obras de Iberê Camargo. A sala maior foi adaptada para receber exposições temporárias com curadorias especializadas, mediadas pela primeira equipe do Programa Educativo para alunos de escolas públicas e privadas. Ainda foram realizados seminários temáticos a partir da obra de Iberê, com a participação de convidados nacionais e internacionais, abertos ao público, em diferentes auditórios da cidade, bem como itinerâncias dos trabalhos do pintor e das gravuras do Artista Convidado em instituições de Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro.

Tudo isso acontecia enquanto forças políticas e econômicas se movimentavam para captação de recursos e mão-de-obra para um projeto audacioso, como refere-se Dalcol em sua dissertação: “A escolha de um arquiteto de reconhecimento internacional para o projeto da sede da Fundação Iberê Camargo deve ser vista, como uma estratégia de visibilidade institucional por meio da arquitetura urbana.”

Onde construir já não era mais um problema. Em 7 de maio de 1996, foi sancionada a Lei Nº 10.781, autorizando o Governo do Estado a doar sete terrenos situados na Vila S. Thereza, 5º Distrito de Porto Alegre, na freguesia do Menino Deus, com área de 8.163,50m2 à Fundação Iberê. Já a área do estacionamento foi cedida em comodato pela Prefeitura de Porto Alegre, também em 1996. O passo seguinte era buscar um arquiteto. 

Conforme Jorge Gerdau, “Fiz uma visita ao Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba (PR), pois Dona Maria desejava que fizéssemos a Fundação Iberê com ele. Niemeyer é um dos maiores arquitetos do mundo em termos de concepção e criação, mas me preocupava muito o aspecto operacional e gerencial. Tanto é que me aprofundei sobre gestão e manutenção de acervo em termos de mobilidade, instalações, temperatura e umidade, porque é uma responsabilidade enorme quando se tem um acervo que vale dezenas de milhões. Vivemos uma fase interessantíssima de escolha do arquiteto. Corajosamente, pesquisamos outros nomes em nível internacional e fizemos uma lista dos dez melhores arquitetos com experiência em construir museus. Os diretores elegeram três finalistas: o português Álvaro Siza, o espanhol Rafael Moneo e o americano Richard Meyer. Em 2000, foi escolhido Siza.”

Álvaro Siza, então, rascunhou uma obra encaixada no morro, com uma moldura verde ao redor do museu. “Estávamos nas mãos de um bom arquiteto”, diz Gerdau.

Eduardo Haesbaert lembra que, neste mesmo ano, quando Siza visitou pela primeira vez o terreno da Fundação Iberê, foi questionado sobre a cavidade no morro decorrente de uma pedreira anteriormente ali instalada. Ele respondeu: “Não vamos mexer nesta ferida”. E logo a seguir, ao contemplar o Guaíba, expressou: “Esta malha mansa neste doce poente. Quando temos uma paisagem tão bela e tão grandiosa em sua escala, minha estratégia não é envidraçar, mas enquadrar”, disse o arquiteto Álvaro Siza.

Em 2002, uma cerimônia marcou o início da obra de construção. O pincel de Iberê foi colocado num bloco de concreto, abaixo da sapata mais importante do prédio, em um gesto pictórico além de simbólico. “Chegou o dia desejado do lançamento da Pedra Fundamental da Fundação Iberê. Chegou com chuva, que dizem ser um bom sinal no início de uma obra. Esta Pedra Fundamental em concreto é o início da concretização de um sonho de todos vós, de um propósito incrível de Dona Maria Camargo e que se tornou também um sonho meu”, disse Siza em seu discurso.

Durante os seis anos de construção, por vezes, as etapas finalizadas foram celebradas com eventos para convidados. A obra também esteve aberta, com agendamento, para visita de estudantes de arquitetura.

Desde o início do projeto, em julho de 2003, a maquete foi exibida como um dos mais importantes projetos de Siza, considerando obras existentes em Portugal, França, Itália, Espanha, China, Japão, Rússia e Coréia do Sul, hoje esta maquete é parte do acervo do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Arquitetada com tecnologia de ponta, a Fundação Iberê é o primeiro prédio cultural do Brasil construído dentro de todas as normas internacionais de segurança e atendimento.

Considerado por profissionais da área um marco internacional em arquitetura e soluções em engenharia, a Fundação possui reservas técnicas organizadas em acervo Artístico e Documental: a primeira parte conta com mais de cinco mil obras, entre desenhos, guaches, gravuras e pinturas; enquanto a segunda abriga mais de 20 mil documentos como catálogos, jornais, revistas, fotografias, correspondências, cadernos de notas e outros. Orçado em R$40 milhões, a Fundação Iberê também recebeu aporte através de incentivos fiscais – LIC e Rouanet –, com patrocínio da Gerdau, Petrobras, Camargo Corrêa, RGE, De Lage Landen, Itaú e Vonpar.

Álvaro Siza, de 89 anos, acompanhou a obra nos mínimos detalhes. O prédio foi consagrado com o Leão de Ouro da 8ª Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2002, e do Mies Crown Hall Americas Prize, em 2014.