Através de Iberê | Francisco Dalcol + Frantz

04.jan.19

O projeto Através de Iberê tem como ponto de partida o convite a um curador/crítico/artista/amigo de Iberê Camargo para que eleja uma obra do acervo da Fundação e a explore discursiva ou performaticamente diante do público.

Durante a fala do convidado, a obra ficará exposta no auditório e, mais do que uma análise histórica, serão propostas questões envolvendo a vida e a obra do artista, em uma abordagem livre e exploratória nos mais diversos sentidos plásticos, narrativos ou mesmo históricos.

No sábado 26/01, às 16h, o convidado é o pesquisador, curador e crítico de arte Francisco Dalcol, que abordará a obra Desdobramento (1978), acompanhado do artista Frantz, que apresentará um trabalho desenvolvido a partir de reproduções de obras de Iberê.

 

Carretéis: motivo e obsessão — uma leitura crítica e uma intervenção artística

Quando Iberê Camargo (1914-1994) introduziu os famosos carretéis em suas pinturas e gravuras, o artista não apenas resgatou uma memória da própria infância como motivo, como também deu início a um embate com este objeto que se estenderia por quase 30 anos.

Os carretéis aparecem nos anos 1950, primeiramente equilibrando-se sobre as mesas de suas naturezas-mortas; a seguir passando a se movimentar no espaço para logo explodirem em abstração; até, por fim, retomarem certa ordem, prenunciando a fase dos anos 1980 em que Iberê reencontraria a figuração de viés expressionista com que encaminhou a etapa final de sua obra.

Nessa trajetória de sua obra, Iberê gerou diferentes interpretações. Por vezes, foi considerado abstrato informal; noutras, abstrato geométrico — categorizações todas que refutava —; e, finalmente, um artista que expressava a memória e o drama da existência.

Ao eleger a pintura Desdobramento (1978) como um ponto de partida e chegada para se observar as passagens e os encaminhamentos que os carretéis emprestam à produção de Iberê, Francisco Dalcol explora a presença e a recorrência deste objeto pensando-o como motivo de obsessão pelo artista. Obsessão no sentido de um embate que se move ao mesmo tempo entre o formal e o conceitual, o subjetivo e o universal, o singular e o absoluto.

Acompanhando essa análise e reflexão, o artista Frantz apresenta um trabalho que opera como um gesto de desconstrução da inteligibilidade argumentativa em que se assenta o discurso crítico e historiográfico. Em sua proposição, o artista se apropria de reproduções de obras de Iberê a partir de um catálogo de uma exposição dedicada aos carretéis na Fundação Iberê Camargo.

O trabalho integra o projeto “Roubadas”, no qual Frantz intervém nos discursos visuais e textuais contidos nas publicações artísticas, manipulando e editando as imagens e os textos que encontra ao longo das páginas. Mais do que o embaralhamento e o apagamento das autorias, essa operação de apropriar-e-intervir dá a ver sempre uma obra outra, embora ao mesmo tempo impossível de ser desvinculada por completo de seu referente anterior. São também desdobramentos, porque efeito de algum tipo de ação e intervenção, o que nos mostra que a realidade é sempre uma construção a ser mediada, e a arte a operação que se ocupa de intervir nesse real construído.

A OBRA
“Desdobramento” (1978)
Óleo sobre tela
100 x 141 cm

FRANCISCO DALCOL
Pesquisador, crítico, curador, editor e jornalista. Vive e trabalha desde Porto Alegre (RS). Doutor em História, Teoria e Crítica de Arte pelo Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais (PPGAV) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com estágio de doutoramento no exterior pela Universidade Nova de Lisboa (UNL). Também mestre em História, Teoria e Crítica de Arte, sua dissertação é resultado de um estudo sobre a institucionalização de Iberê Camargo a partir do programa curatorial e de exposições da Fundação Iberê Camargo. É membro da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA), da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e da Associação Brasileira de Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP). Em 2017 e 2018, integrou o Júri de Indicação do Prêmio PIPA. Em 2016, ganhou a 1ª menção honorífica no Incentive Prize for Young Critics, concedido pela AICA. Entre 2012 e 2016, foi editor e crítico de arte do jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS). Entre suas curadorias, tem trabalhado com artistas contemporâneos atuantes em Porto Alegre e desenvolvido projetos de exposições individuais e coletivas em galerias, instituições e museus.

FRANTZ
Vive e desenvolve seu trabalho artístico em Porto Alegre, com ênfase napesquisa em pintura e suas reverberações em proposições conceituais. Suaprática artística é marcada pela apropriação de resquícios e elementos residuais, que são incorporados à sua poética,tornando-se a própria pintura. Os trabalhos dessa produção são realizados em formatos diversos,desdobrando-se emobjetos, livros, instalações e mesmo quadros bidimensionais. Em sua trajetória iniciada nos anos 1980, já apresentou diversas individuais e participou de dezenas de exposições coletivas. Em 2018, foram as mostras coletivas O tempo das coisas – módulo 2, na Pinacoteca Ruben Berta de Porto Alegre; O lugar enquanto espaço, na Galeria Baró, em São Paulo; ambas com curadoria de Francisco Dalcol; , na Fundação Vera Chaves Barcelos, em Viamão; e Torus, na Galeria Mamute, em Porto Alegre, estas duas com curadoria do duo ÍO.