Quase nove décadas dedicadas ao palco

Roberta Amaral
21.abr.20

O título resume a vida de Nathalia Timberg, que no dia 5 de agosto completa 91 anos. Por mais clichê que possa parecer, é difícil vê-la sem ficar de queixo caído ao se dar conta que você está cara a cara com uma lenda viva da teledramaturgia brasileira.

Recentemente, mais uma vez, ela trouxe a Porto Alegre o monólogo “Através da Iris”, em que interpreta a interessante Iris Apfel, uma designer nova-iorquina que tornou-se um ícone da moda, cheia de estilo e superativa. Iris continua trabalhando e viajando o mundo sozinha do alto de seus 98 anos. É um banho de juventude, se sente abençoada por nessa fase da vida ter tantas portas abertas e a oportunidade de fazer coisas novas, sempre com entusiasmo e espírito visionário. Mesmo com a dificuldade para andar, ela continua vivendo um dia de cada vez, inspirada nas coisas simples. Um comportamento um tanto familiar para Nathalia.

“A minha ideia não era fazer uma biografia, mas trazer aquilo que fosse mais relevante entre os assuntos que permeiam a vida da Iris. A velhice, a solidão, a forma de lidar com a morte, o trabalho, o humor. Inclusive tem momentos da peça em que essa abordagem fica até meio dúbia. Você não sabe se está falando sobre a Iris ou sobre mim”, conta.

Nathalia sonhava em ser médica, mas formou-se em Belas Artes, influenciada pelo gosto do pai pela pintura. No entanto, foi no palco que encontrou sua vocação. Pela atuação em “A dama da madrugada”, no Teatro Universitário, ganhou bolsa do governo francês para estudar Artes Cênicas em Paris. De volta, aos 25 anos, estreou profissionalmente em “Senhora dos afogados”, dirigida por Bibi Ferreira, na Companhia Dramática Nacional. Viveu sua primeira grande personagem na TV, a atormentada freira Maria Helena, em “O direito de nascer”, na Tupi.

A atriz troca qualquer badalação pelo estudo. A determinação profissional, muitas vezes, fez com que deixasse em segundo plano a vida pessoal. Viúva do escritor Sylvan Paezzo, com quem foi casada por 15 anos, decidiu não ter filhos. Não se arrepende, é apenas reflexo de uma prioridade familiar. De origem judia, filha de pai e mãe belga, ela conta que os pais davam muito valor aos estudos dos rebentos (além dela, havia Antoniete, a mais velha, e Felipe, o caçula, ambos já falecidos).

“Ela é uma workaholic mesmo, não para, emenda um trabalho no outro, é muito pique. E é uma mulher discreta, não gosta de dividir muitos detalhes sobre sua vida pessoal, e nem tem uma vida polêmica. A vida dela é toda calcada no trabalho”, afirma Cacau Hygino, roteirista da peça e autor do livro “Nathalia Timberg – Momentos”, publicado em 2015.

Sua vida é a própria arte: “Minha vida me aconteceu. Tenho tanta coisa para problematizar dos meus personagens que não sobra tempo para mim. Olho a Nathalia de vez em quando, para ver se está fazendo tudo direito, puxo minha orelha, mas vou em frente”.