Recorte de esculturas que marcam a trajetória de José Resende será vista pela primeira vez em Porto Alegre

26.out.21

Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Gam3 Parks e Fundação Iberê: 

 

JOSÉ RESENDE

 

 Revitalização do mirante Olhos Atentos
13 de novembro | 11h | Orla do Guaíba

Abertura da exposição Na membrana do mundo
13 de novembro | 14h | Fundação Iberê

 

OLHOS ATENTOS

Inaugurado em 2005, o mirante Olhos Atentos ocupa um dos espaços mais visitados da Capital e, agora, renovará a sua relação com o público que frequenta o principal cartão postal de Porto Alegre, a Orla do Guaíba. A GAM3 Parks, concessionária que administra o Trecho 1 da Orla e o Parque Harmonia, fará a revitalização da obra. O artista José Resende, que idealizou a intervenção, e o curador Paulo Duarte estarão presentes na entrega à população no dia 13 de novembro, sábado, às 11h.

“Estamos muito felizes em fazer parte deste momento, de devolver uma obra tão importante à população. Não era uma obrigação da concessionária, mas entendemos a necessidade e a importância da criação feita por José Resende, da integração de Porto Alegre com a água”, destaca Carla Deboni, diretora administrativa da GAM3 Parks.

Em 2005, José Resende foi um dos artistas convidados pela 5ª Bienal do Mercosul para produzir obras permanentes para a cidade. Segundo o curador-geral na época, Paulo Duarte, “as intervenções foram pensadas como obras de arte para serem usadas pelo público, para que ele passeasse sobre elas, olhasse a paisagem a partir delas ou simplesmente descansasse sobre elas.”

Fechado desde 2019 para evitar acidentes, devido ao controle de acesso (limite de 20 pessoas) que não era respeitado, o mirante começará a ser revitalizado na primeira semana de novembro. Todo o processo foi autorizado pela Prefeitura de Porto Alegre, por meio da Secretaria Municipal de Cultura – SMC.

“A SMC tem feito um grande esforço para revitalizar e restaurar monumentos. Olhos Atentos está entre as peças de arte contemporâneas em área pública mais célebres da cidade, tendo atraído grande interesse da população, justamente por lançar a questão da integração da cidade com o lago, o que agora começa a se tornar uma realidade muito concreta com a nova orla. Não faria sentido inaugurarmos o novo complexo e deixarmos essa escultura tão importante para trás. Além disso, a reativação da obra dialoga com a importante exposição que a Fundação Iberê promove sobre o artista”, ressalta o secretário Gunter Axt.

Para garantir a segurança do público visitante, a GAM3 instalará guarda corpos para limitar o número máximo de pessoas que podem ficar no espaço e câmeras, como explica Alan Furlan, diretor operacional da GAM3 Parks: “Ao atingir 20 pessoas, um terá que sair para a entrada da próxima e assim sucessivamente. Além disso, a nossa equipe técnica está trabalhando para instalar câmeras de segurança no local para evitar novas depreciações, além de um totem informativo com limite de pessoas, história da obra e do artista”.

NA MEMBRANA DO MUNDO

Ainda no dia 13, às 14h, a Fundação Iberê abre a nona e última exposição de 2021, Na membrana do mundo. Com curadoria de Luisa Duarte, Porto Alegre recebe, pela primeira vez, um conjunto significativo de obras – produzidas entre 1974 e 2018 – que marcam a trajetória de José Resende.

Em mais de 50 anos dedicados às artes plásticas, uma das principais características de Resende é a apropriação de materiais comuns e sua ressignificação em instalações com uma forte densidade poética e grande potência visual. Ao todo, serão apresentadas 18 esculturas de grandes dimensões, misturando, por exemplo, parafina, feltro, aço, ferro, chumbo, latão, cobre, madeira, pedra e borracha, que têm ao mesmo tempo o desafio de fazer um trabalho com humor, tensão, oposições de sentido e movimento latente.

“Os materiais encontrados nas obras são aqueles que habitam de forma anônima o dia a dia dos espaços urbanos. Aqui, estão sempre em contato um com o outro, instaurando uma cadeia de vizinhanças fecundas: quente/frio, líquido/sólido, rígido/mole, opaco/transparente, liso/áspero. Articulados, formam esculturas que possuem uma natureza construtiva capaz de endereçar perguntas para o olhar. Se na vida diária as nossas retinas são inundadas por imagens que parecem aportar mais certezas do que dúvidas, com cada trabalho de Resende ocorre o inverso. Diante deles uma espécie de desconcerto nos atravessa e somos interrogados por aquela forma que não encontra paralelo no mundo, pois fruto de um ato poético que inaugura um imaginário singular a partir do que se encontrava até então adormecido no prosaico cotidiano”, destaca Luisa, filha de Paulo Duarte, que tem entre seus trabalhos as exposições “Adriana Varejão – Por uma Retórica Canibal”, no Museu de Arte Moderna da Bahia, e “Tunga – o rigor da distração”, a primeira grande mostra no Museu de Arte do Rio após a morte do artista, em 2016, além do livro ABC – Arte Brasileira Contemporânea, organizado com Adriano Pedrosa.

Sobre José Resende – Formado em Arquitetura pela Universidade Mackenzie (São Paulo), em 1963 começou a cursar gravura na FAAP e a estudar com Wesley Duke Lee. Enquanto estagiava no escritório do arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em 1966, fundou com os artistas Nelson Leirner, Wesley Duke Lee, Geraldo de Barros, Carlos Fajardo e Frederico Nasser a Rex Gallery and Sons. Em 1970, fundou com Fajardo, Nasser e Luís Baravelli o centro de experimentação artística Escola Brasil, onde lecionou por quatro anos.

Ao longo de sua carreira, José Resende desenvolveu uma atuação pungente dentro do debate da arte e da cultura no Brasil, sobretudo entre 1960 e 1980, época em que o país estava sob o jugo da ditadura militar. A partir da década de 1990, desenvolveu inúmeros projetos, permanentes e temporários, especialmente para espaços urbanos. Destacam-se: a ação efêmera em que orquestra o empilhamento de blocos de granito em uma edição do Arte/Cidade em 1994, em São Paulo; o Marco dos 100 milhões de toneladas em 1997, em Volta Redonda; a peça apelidada de Centopeia, inicialmente concebida para Avenida Paulista e que atualmente reside no Parque Ibirapuera; os três pares de vagões suspensos às margens da Radial Leste, em São Paulo, para a edição de 2002 do Arte/Cidade e o mirante de 23 metros que avança sobre o lago Guaíba, em Porto Alegre, produzido na ocasião da V Bienal do Mercosul e intitulado Olhos Atentos.

Assumindo diferentes dimensões e formas através dos tempos e trabalhando com materiais de natureza distintas, como a parafina, o concreto, o vidro e o aço, o próprio artista identifica três tendências marcantes em sua produção: entre 1970 e 1980, trabalhos constituídos de materiais como placas de metal, pedra, tubos, fios ou cabos que traçavam linhas, vetores e construíam planos a fim de desafiar a geometria do espaço expositivo; nos anos seguintes, trabalhos com materiais que assumem diferentes funções a partir da transformação de seus estados, como materiais líquidos que, ao se solidificarem, ganham outra forma e maleabilidade; e, por fim, um terceiro momento, em que substitui a forma obtida pelo acaso através de uma maior intencionalidade em seu desenho, o que em alguns casos estabelece, inclusive, uma espécie de retomada ao teor figurativo presente nos seus primeiros trabalhos. Se considerarmos as obras presentes na sua maior individual realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo em 2015 – como Duas vênus deitadas (2015), Dobras (2015) e Sorriso (2015) – esse último momento apontado pelo artista parece ainda estar em curso.

Além de expor diversas vezes na Bienal Internacional de São Paulo (9ª, 17ª, 20ª e 24ª) e em importantes instituições nacionais e internacionais ao longo dos seus quase 60 anos de carreira, seus trabalhos figuram em importantes coleções públicas como MoMA (Museum of Modern Art), Museu de Arte Moderna de São Paulo e Pinacoteca do Estado de São Paulo.

SERVIÇO | EXPOSIÇÕES
Nemer – aquarelas recentes
Curadoria:
Agnaldo Farias
Exposição: Átrio
Visitação:
até 19 de dezembro de 2021

Iberê Camargo: Tudo te é falso e inútil
Curadoria:
Lucas Arruda e Lilian Tone
Exposição: Segundo andar
Visitação: até 30 de janeiro de 2022

Lucas Arruda: Lugar sem lugar
Curadoria:
Lilian Tone
Exposição: Terceiro andar
Visitação: até 16 de janeiro de 2022

Na membrana do mundo
Artista:
José Resende
Curadoria: Luisa Duarte
Exposição:
Quarto andar
Visitação: 13 de novembro de 2021 a 6 de março de 2022