O FIO DE ARIADNE: Denise Mattar e Paula Ramos falam em live sobre Maria Coussirat Camargo na vida de Iberê
“Quando eu estiver deitado na planície, indiferente às cores e às formas, tu deves te lembrar de mim. Aí onde a planície ondula, a terra é mais fértil. Abre com a concha da tua mão uma pequenina cova e esconde nela a semente de uma árvore. Eu quero nascer nesta árvore, quero subir com os seus galhos até o beijo da luz. Depois, nos dias abrasados, tu virás procurar a sua sombra, que será fresca para ti. Então no murmúrio das folhas eu te direi o que o meu pobre coração de homem não soube dizer”.
(Poema de Iberê Camargo para Maria)
No próximo sábado (9), às 11h, a Fundação Iberê promove uma live no Instagram com Denise Mattar, curadora da próxima exposição “O Fio de Ariadne”, e Paula Ramos, crítica, historiadora da Arte e doutora em Artes Visuais, sobre Maria Coussirat Camargo.
Assista a live:
“Sombra e luz de Iberê”, como definiu o crítico de arte Paulo Herkenhoff, Maria nasceu em 28 de novembro de 1915, em Porto Alegre. Formou-se professora na Escola Sevigné e, por se destacar nas aulas de desenho, foi aceita na antiga Escola de Belas Artes, atual Instituto de Artes da UFRGS. Lá, obteve a graduação em pintura e estudou com grandes professores da época, como Ângelo Guido, Francis Pelichek, Luis Maristany de Trias, Fernando Corona, José Lutzenberger e João Fahrion.
Foi em 1939 que Iberê Camargo a conheceu. Eles eram colegas em uma aula de História da Arte. Em novembro, se casaram. Reconhecendo o talento do marido, Maria começou cedo a guardar seus desenhos e o acompanhou nas mudanças e viagens que a carreira de pintor exigiria.
No Rio de Janeiro, enquanto Iberê estudava pintura, ela atuava como desenhista de arquitetura na Companhia Pederneiras. Era a sombra, mas também protagonista. “Esteio seguro e sereno, Maria foi assumindo a organização da vida prática do marido. Ela era a responsável pela manutenção das necessidades cotidianas do casal, bem como pelos contratos, envio de cartas, administração de finanças, importação de tintas, despacho de obras e, claro, guarda da produção artística. Tarefas estruturantes, sem as quais pouco se avança; todavia, tarefas submersas, longe dos olhos e, por conseguinte, passíveis de esquecimento e menção”, destaca Paula.
Durante os 54 anos em que esteve ao lado do pintor, Maria manteve uma série de cadernos nos quais anotou títulos, dimensões, datas, preços e nomes de compradores de obras do artista – documentos que hoje fazem parte do Acervo Documental da Fundação Iberê Camargo, instituição que ela ajudou a criar.
Exposição inédita – Durante as décadas de 1960 e 1970, além de sua intensa produção em pintura, desenho e gravura, Iberê Camargo realizou trabalhos em cerâmica e tapeçaria. Eles respondiam a uma demanda do circuito de arte, herdada da utopia modernista, que preconizava o conceito de síntese das artes; uma colaboração estreita entre arte, arquitetura e artesanato.
Com assessoria técnica das ceramistas Luiza Prado e Marianita Linck, Iberê realizou, nos anos 1960, um conjunto de pinturas em porcelana, com resultados surpreendentes. Na década seguinte selecionou um conjunto de cartões, que foram transformados por Maria Angela Magalhães em impactantes tapeçarias.
Há algum tempo a Fundação Iberê Camargo vinha estudando essa faceta da produção do artista e a oportunidade de apresentá-la surgiu paralelamente à realização, pela primeira vez nas dependências da instituição, da Bienal do Mercosul. A conjuntura feminina que permeou a produção dessas tapeçarias e cerâmicas revelou grande afinidade com o conceito geral da 12ª edição.
Convidada pelo centro cultural a desenvolver esse projeto, a curadora Denise Mattar, juntamente com Gustavo Possamai, expandiu essa percepção inicial, revelando o fio de Ariadne: a urdidura feminina que apoiou o trabalho de Iberê Camargo ao longo de sua história. Mais informações sobre a exposição no link.
—
Nota: Prevista para abril de 2020, a abertura da exposição foi adiada em colaboração às medidas de controle da propagação do novo Coronavírus (Covid-19). Quando possível, informaremos a nova data.
—
Cronologia ilustrada de Maria Coussirat Camargo no link.
—
Live do dia 09/05 com Paula Ramos: “Maria Coussirat e a vigília da memória”
Live do dia 11/04 com Denise Mattar e Gustavo Possamai, curadores da exposição “O Fio de Ariadne” a ser inaugurada após a quarentena
Imagem: Maria e Iberê na residência do bairro Nonoai, Porto Alegre, 1993. Foto © Mathias Cramer