Um mundo a perder de vista: Guignard

Curadoria

José Augusto Ribeiro

09.dez

08.mar.09

A exposição reúne pinturas e desenhos de Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) realizados entre 1929 – quando o artista retorna definitivamente ao Brasil, depois de uma temporada de mais de duas décadas na Europa – e 1961 – um ano antes de sua morte –, a fim de constituir uma visada abrangente desta trajetória. O conjunto privilegia trabalhos datados a partir de 1950, na tentativa de enfatizar o processo de dissolução parcial dos ambientes e objetos representados com frequência na obra do pintor. A seleção acompanha as graduais rarefação e liquefação de matéria na conformação de paisagens obtidas do alto, à distância e transfiguradas em superfícies rasas de pequenas dimensões, com a hipótese de que é nessa passagem de sua produção que Guignard adota as soluções formais decisivas para consolidar a singularidade de sua pintura no modernismo brasileiro.

Se o início do percurso do artista escapa ao caráter programático e grandiloquente do anseio de uma arte moderna e nacional, no primeiro quartel do século XX, vale lembrar que, em seguida, enquanto alguns adeptos da abstração geométrica pensavam em redimir o atraso do país pela razão construtiva, Guignard revolve a memória de um passado colonial e agrário numa figuração ágil, leve, “magra” e diluída. Diante da vastidão de regiões já irreconhecíveis no tempo e no espaço, o artista parece se desvencilhar da objetividade de situações imediatas, para assumir um recuo de tom reflexivo, feito de vazios e devaneios, que o permite, por exemplo, colocar em dúvida a dimensão, a consistência e a permanência das coisas. Seus elementos se tornam, então, transparentes, de limites físicos incertos, como se estivessem prestes a desaparecer, ao longe ou na iminência do desmancho.

José Augusto Ribeiro

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